O faz de conta é só uma brincadeira?


Autor: Verônica Lana
Categoria: Artigos
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Crianças brincando de faz de conta na Trilha da Criança

Não, o faz de conta não é só uma brincadeira. O texto a seguir é um relato de uma professora da Trilha da Criança formada em teatro e pedagogia que mostra, por meio da vivência de seus alunos, como a imaginação e a criatividade podem, especialmente quando relacionados com as atividades do cotidiano, fazer a diferença na formação das crianças.

Seria possível um ser humano virar um avião num piscar de olhos? E os anões da Branca de Neve ganharem asas, cores e poderes mágicos? A resposta é sim! Basta “entrar no universo da imaginação” e tudo pode acontecer… de verdade! E quem acha que isso é coisa só das crianças, precisa aprender muito com elas!

E o que isso tem a ver com Educação Infantil? Tudo! Na primeira infância, o cérebro está mais disponível para criar conexões e registrar informações. Podemos dizer que essa fase é o chão que caminharemos por toda nossa vida, uma vez que, nesse período, as vivências e estímulos recebidos pela criança, por meio dos cinco sentidos, são registrados em sua memória durante a vida inteira. Portanto, a criança que é incentivada a desenvolver sua imaginação, aprende sobre os diferentes papéis sociais, resolve problemas e se prepara para o que a vida espera dela.

As crianças nascem curiosas, com um desejo enorme de explorar e perceber o mundo. Nesse processo de descobertas, usam a imaginação para ressignificar os objetos, os momentos, elementos culturais, histórias e até a si mesmas. Os exemplos utilizados nas perguntas que deram início a esse texto realmente aconteceram e são bons exemplos disso. O primeiro foi durante uma apresentação de teatro de alunos de seis anos de uma escola municipal de Belo Horizonte. O espetáculo encenado pelas crianças contava a história da “Bruxinha que era boa”. No entanto, no meio da apresentação, um dos meninos repentinamente decidiu que era um avião e, daquele momento em diante, até o final da peça, ele realmente o foi: seu corpo, sua voz, seus gestos foram adaptados para representar com fidelidade o que ele imaginava: ser um avião. O mais interessante é que, mesmo sem expressar verbalmente, todos os presentes conseguiam ver que ele “era” o meio de transporte que tinha escolhido virar. Aqui, a imaginação permitiu a construção simbólica, tão importante para o desenvolvimento daquela criança.

Em um outro momento, uma outra turma de estudantes se viu diante do desafio de montar o clássico “Branca de Neve e os sete anões” com um elenco composto predominantemente por meninas (haviam apenas 2 meninos). Nenhuma das garotas queriam representar papéis masculinos, então a solução veio dos próprios alunos que sugeriram modificar a história para “Branca de Neve e as sete fadas das cores”, surpreendendo até mesmo a professora da turma. Eis um exemplo de utilização da imaginação para superar um desafio.

Como podemos ver, a imaginação é fundamental para o desenvolvimento da aprendizagem do ser humano durante toda sua formação. Com ela, o indivíduo estabelece relações entre elementos que não se conectavam antes e, nesse processo, cria algo novo ou se apropria do conhecimento existente. Na Educação Infantil, ela é estimulada por meio das brincadeiras, atividades de “faz de conta”, contações de histórias, rodas de conversa e de músicas, entre várias outras propostas pedagógicas que utilizam a ludicidade como base da construção do conhecimento. Essas atividades somente são eficientes quando vivenciadas pela criança com todo o seu ser. E isso acontece cotidianamente, afinal, a criança não “faz de conta”, ela vive cada momento intensamente.


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