A descoberta do mundo pela boca: a mordida na infância


Autor: Trilha da Criança
Categoria: Artigos
Publicado em:

Por Juliana Ottoni, coordenadora pedagógica
da Trilha da Criança

Até aprenderem a falar, as crianças utilizam outros meios para se comunicar. A mordida é uma delas. Na fase oral, assim denominada pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud, os pequenos manifestam descontentamento, alegria e outras emoções por meio do corpo e, até os dois anos de idade, a boca é o que mais proporciona descobertas. Essa fase é um gatilho para a presença da mordida na infância.

A criança tem a sua primeira experiência com o mundo por meio dela, no contato com o seio materno, a chupeta e a mamadeira, que lhe proporcionam o prazer de saciar a fome e acalmar-se.

E se neste primeiro momento os bebês “experimentam” o mundo pela sucção, posteriormente eles utilizam as mordidas para se apropriarem do desconhecido. Por isso, é comum nessa fase crianças levarem as mãos e os pés à boca, assim como brinquedos e outros objetos.

Além de monitorar o comportamento dos pequenos para evitar que se machuquem ou que engulam algo que traga riscos, pais e educadores devem se atentar às mordidas. Quando a criança morde um coleguinha, por exemplo, ela não quer agredi-lo, mas obter de forma rápida algum objeto ou apenas chamar a atenção.

Segundo o teórico Jean Piaget, essa etapa sensório-motora é caracterizada por um movimento de ação e reação, uma vez que o pensamento está à frente da linguagem e se expressar por meio do corpo é muito natural. Isso leva os pequenos a utilizarem as mordidas em diversas situações, para avaliar o efeito do ato. Eles mordem para ver o que acontece – se conseguem o que querem e qual a reação do outro.

Com o tempo, outras funções sensitivas vão ocupando o lugar da boca e atividades desenvolvidas em casa e na escola são fundamentais para auxiliar nessa transição. Massagens corporais; estímulos com músicas, sons de bichos e barulhos que fazem parte do cotidiano, como buzinas, passos e palmas; e uso de objetos de cores, formas e texturas diferentes podem aguçar outros sentidos e, ao estimular outras partes do corpo, despertar novas sensações tirando o foco do prazer apenas pela boca.

Mas as crianças não nascem sabendo morder, beliscar, dar tapas, puxar cabelo ou qualquer outra reação dessa natureza. Elas aprendem na relação com outras crianças e com os adultos. Os pais, muitas vezes, brincam de morder os filhos, apertar a bochecha ou dar tapinhas no bumbum. Essas atitudes não são erradas, no entanto, podem confundir os pequenos, que replicam as mesmas brincadeiras.

Cabe aos pais, portanto, estabelecer limites e mostrar a importância de respeitar o próximo. A escola, por sua vez, deve mediar as relações entre as crianças, para minimizar sentimentos negativos expressos por “quem mordeu e quem foi mordido”. O que não pode é ignorar essa fase do desenvolvimento infantil.

É importante identificar o motivo do comportamento e mostrar outras formas de expressão. Assim, se ensinam as regras de convivência. Afinal, cotidiano e educação são uma via de mão dupla.

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