Larissa Porto de Oliveira*
Segundo a neurociência, na primeira infância – faixa etária de zero aos seis anos – o cérebro atinge seu potencial máximo para estabelecer novas sinapses, que são formadas em resposta aos estímulos vindos do ambiente e captados pelo cérebro por meio dos sentidos do corpo humano, que vão além dos conhecidos tato, olfato, paladar, visão e audição. Dessa forma, conseguimos interpretar e compreender as situações.
Por isso, é importante cuidar do ambiente em que a criança vive, gerando motivações para que se mantenha uma rede neuronal extensa. Em longo prazo, espera-se que esses estímulos fortaleçam as conexões neuronais, a ponto de favorecer o desempenho em determinadas habilidades, que terão impacto até a vida adulta. As conexões que forem pouco usadas serão excluídas da rede neuronal.
A maior parte dos estímulos que a criança recebe vem da rotina, em atividades da vida diária, como o banho, a alimentação e a higiene pessoal. Tem-se, então, a possibilidade de torná-la divertida, descontraída e respeitosa, afim de que a criança participe ativamente e desenvolva a autorresponsabilidade, a independência e a autonomia, habilidades requeridas para toda a vida.
Nesse sentido, as brincadeiras tornam-se a base para um desenvolvimento infantil saudável. Brincar é para a criança o que o trabalho representa para o adulto: o momento de maior responsabilidade, importância, dedicação e prazer. É quando a criança se coloca no mundo, enxerga possibilidades, expressa seus sentimentos, constrói e testa hipóteses. Portanto, é desejável criar cenários e condições favoráveis para estimular a sua criatividade, imaginação e habilidades para resolver problemas.
Por meio das brincadeiras, as crianças colocam-se no papel de protagonistas. Assim, têm a oportunidade de observar, testar (por meio da imitação) e repetir, criando um ciclo infindável e repleto de possibilidades. A cada repetição, surgem novas experiências e conclusões, que favorecem o processo de desenvolvimento e aprendizado.
O aprendizado na primeira infância também está relacionado à qualidade e à diversidade das experiências. Para que seja contextualizado e significativo para a criança, é importante que os estímulos sejam adequados à faixa etária e tenham uma linguagem acolhedora.
A criança brinca o tempo todo. O constante processo de aprendizagem requer ambiente enriquecido, atividades e materiais variados, que proporcionam experiências e situações diferentes, além de múltiplas possibilidades. Texturas, temperaturas, cores diferentes e objetos passíveis de transformação são elementos que, quando combinados, permitem que a criança crie e descubra funções. Objetos não estruturados, tais como caixas, potes e panelas são ótimos exemplos de materiais ricos em estímulos sensoriais, além de sustentáveis e acessíveis.
Faz-se importante pensar no brincar em contato com a natureza, em lugares que oferecem elementos ricos em possibilidades e sensações. O contato com outras crianças é fundamental, pois, a aprendizagem colaborativa favorece o desenvolvimento de habilidades sociais como a comunicação, o relacionamento e a empatia. Brincar é prazeroso! Aproveitar os momentos com os filhos e com as crianças próximas para brincar, se divertir e gargalhar aumenta nossa sensação de bem-estar e estado de plenitude. Criança brinca. Eu brinco. E você, brinca?
* Larissa Porto de Oliveira é terapeuta ocupacional na escola Trilha da Criança. Pós-Graduanda em Neurociência e Educação.