Especialista em educação
infantil ressalta a importância de se estabelecer limites às crianças principalmente
quanto ao uso das tecnologias
Fazer o que é necessário na educação dos filhos
não é algo muito fácil e, quando se trata de restringir o uso dos dispositivos
eletrônicos, o desafio parece intransponível. Afinal, vivemos em um mundo onde
a tecnologia se faz cada dia mais presente e as crianças têm cada vez mais
acesso a tablets, iPads e celulares.
Muitas vezes, a própria família acaba lançando
mão desses recursos para entretê-las. “Assim como com a televisão e com o
videogame, é preciso cautela ao permitir a utilização dos dispositivos móveis e
computadores, bem como a maneira como as crianças interagem com eles”, observa
a consultora em Educação Fernanda Sobreira. Segundo a especialista, estabelecer
regras e definir limites é uma das grandes dificuldades para os pais da nova
geração, mas é também uma das atitudes mais importantes para criar crianças
seguras e felizes.
Embora ainda não haja consenso entre os estudiosos,
muitos apontam consequências negativas do contato excessivo das crianças com as
novas tecnologias. A terapeuta canadense Cris Rowan, por exemplo, defende que o
uso delas por menores de 12 anos é prejudicial ao desenvolvimento e
aprendizado.
O psicólogo e
psicanalista alemão Joseph Knobel Freud acredita que a tecnologia está
bloqueando e prejudicando a capacidade de comunicação entre pais e filhos. Para
ele, o principal problema está relacionado à sucumbência dos pais diante da
necessidade de soluções imediatas, não se estabelecendo a reflexão e o diálogo.
Como consequência, a
sociedade está gerando crianças mais ansiosas, com transtornos de déficit de
atenção, hiperatividade (TDAH) e conduta.
O psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador
do Grupo de Dependências Tecnológicas do Programa Integrado dos Transtornos do
Impulso (PRO-AMITI) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, é estudioso do tema no
Brasil. Ele afirma que, na medida em que os pais colocam os filhos em contato
com a tecnologia, deixam de exercitar sua capacidade de aprender a lidar com
frustrações, o que chamamos popularmente de inteligência emocional. Assim, no
momento em que começam a se ver diante de dificuldades do cotidiano, preferem interagir
com a tecnologia, um sinal de dependência.
Nativos
digitais
Se, por um lado pais, escola
e estudiosos veem na tecnologia o verdadeiro bicho-papão, por outro, o número
de crianças brasileiras que acessam tecnologias vem crescendo a cada dia, como
mostra uma pesquisa divulgada pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil. O
estudo aponta que 65% das crianças com idades entre 5 e 16 anos usam algum
aparelho móvel e 57% acessaram um computador alguma vez na vida. Eles são os
chamados nativos digitais, uma versão atualizada dos Millennials. Entre as muitas
diferenças que poderiam ser traçadas, a mais importante é o fato de que
eles não “migraram” de uma forma de comportamento presencial para a
online: nasceram no mundo totalmente digital.
Segundo estudo recente da UNICEF, 30%
dos usuários de internet no mundo são menores de idade e, a cada dois
segundos, uma nova criança ou adolescente inicia sua primeira experiência
na rede. Ou seja, isso evidencia que eles não abandonaram a TV pelos smartphones e, sim, nasceram e estão familiarizados
com o mundo conectado.
Diante dessa realidade, educar
os filhos é missão que exige dedicação, criatividade, autoridade, persistência
e, acima de tudo, cuidado com as próprias atitudes. “A forma como lidamos com a
tecnologia reflete no comportamento dos filhos: se temos pais conectados,
teremos filhos conectados. A criança precisa de um adulto para lhe oferecer
referências, para ensinar, para dizer o que é útil e o que é ruim e cultivar
relações afetivas para um desenvolvimento humano saudável”, enfatiza Fernanda
Sobreira.