Em 8 de setembro, comemora-se o “Dia Mundial da
Alfabetização”. Instituído pela ONU e pela Unesco, em 1967, com o objetivo de
propor a erradicação do analfabetismo no mundo, o o tema permanece em debate no
século XXI. Por que será? E a situação brasileira, qual é?
O analfabetismo de jovens e adultos vem sendo reduzido no
Brasil, mas o cenário está longe de ser confortável. De acordo com informações
da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo
IBGE, a taxa de analfabetismo da população com 15 anos ou mais caiu de 7,2%, em
2016, para 7%, em 2017 – ou seja, ainda não alcançamos o índice de 6,5% que foi
estipulado em 2015 pela meta 9 do Plano Nacional de Educação (PNE). O
percentual indica que há, aproximadamente, 11,5 milhões de analfabetos no país
e a taxa cresce consideravelmente quando são consideradas faixas etárias mais
elevadas da população. Fica mais uma indagação: a próxima avaliação trará mudanças
nesse cenário?
Sabe-se que alfabetizar crianças, jovens ou adultos é uma
tarefa complexa. O ensino e o aprendizado da leitura e escrita são processos
indissociáveis, que representam um marco importantíssimo para a história de uma
sociedade grafocêntrica como a nossa. Se de um lado erradicar o analfabetismo
de jovens e adultos ainda é meta distante, que só tem sentido se for
suprapartidária – ou seja, se ultrapassar governos e for embasada em políticas
públicas efetivas –, de outro temos que sair da zona de conforto e pensar,
então, em como dinamizar o processo inicial de
alfabetização.
Vivemos numa cultura cada vez mais letrada e dependente do uso da leitura e escrita e o processo da alfabetização deve ocorrer de forma prazerosa. Além disso, se o pilar não for bem trabalhado e não alfabetizarmos as crianças na faixa etária correta, o analfabetismo funcional se arrastará para os próximos anos de escolaridade, como num efeito dominó.
Nesse sentido, a Base Nacional Comum Curricular (2017) vem
contribuir à medida que determina que a alfabetização deve ser concluída até o
segundo ano do ensino fundamental, geralmente até os sete anos, e não mais até
o terceiro, como acontece na atualidade. O objetivo é garantir o direito
fundamental de aprender a ler e escrever.
De acordo com o documento (2017, p. 55) “[…] nos dois
primeiros anos do Ensino Fundamental, a ação pedagógica deve ter como foco a
alfabetização”, visando oferecer amplas oportunidades para que os alunos se
apropriem do sistema de escrita alfabética, associando as práticas diversas de
letramento. Lembrando que escrever requer certas habilidades cognitivas e
motoras que precisam ser exploradas de forma lúdica, desde a educação infantil,
e que vão além de apenas decifrar códigos. “É possível, sim, aprender a
escrever e ler por meio de brincadeiras, por meio de reflexão, por meio de um
trabalho solidário. Há que se perceber, no entanto, que isso não significa
dizer que as aprendizagens são simples ou que são fáceis, ou que não exigem esforço
do aprendiz”. (BRASIL, 2012a, p.13).
Desde a década de 1980, a partir das descobertas da
psicolinguista argentina Emilia Ferreiro, a criança se tornou a protagonista da
sua aprendizagem, sendo desafiada a levantar hipóteses à escrita e, por meio da
mediação do professor, refletir sobre aquilo que escreve. Segundo a
pesquisadora, a compreensão da função social da escrita deve ser estimulada com
o uso de textos que abordem temas da atualidade, retratados em livros, jornais ou revistas.
Ela também observa que, desde a etapa inicial de alfabetização, o professor
deve ter como objetivo ampliar de maneira significativa a inserção das crianças
no universo da escrita, com a qual elas já têm contato.
O segredo para começar a mudar essa história é a atuação efetiva e o compromisso dos professores em iniciar esse processo descobrindo o que cada criança sabe sobre o sistema de escrita alfabética, por meio de um diagnóstico inicial. A partir das sondagens, eles devem arregaçar as mangas, planejar estratégias didáticas para desenvolver as habilidades essenciais para a aquisição da alfabetização, organizar grupos diversificados para intervenção e monitorar sempre o processo de aprendizagem de cada criança.
*Ana Carla Carvalhar Cabral é mestre em educação, coordenadora de Formação da Trilha da Criança Centro Educacional