Ana Paula de Rezende Bartolomeo*
Desde que nasce, a criança vai se apropriando do mundo numa busca de comunicação com a mãe (ou outra pessoa que exerça esse papel), com base em seus reflexos e percepção.
No primeiro ano de vida, essa comunicação é a expressão de processos interiores, os quais não se destinam a ninguém. Ou seja, é egocêntrica. No final do primeiro ano, a criança começa a perceber o mundo. Observa que as pessoas a sua volta são diferentes dela mesma. Intensifica-se a sua curiosidade com tudo o que está no seu entorno.
Por volta dos 2 anos, essa curiosidade fica ainda mais aguçada. Inicia-se, então, a conhecida “fase dos porquês”.
A curiosidade infantil, que se manifesta de muitas maneiras, demonstra a necessidade que a criança tem de compreender a realidade a sua volta. Dentre essas manifestações, podemos citar: as brincadeiras, as experiências, as tentativas de erros e acertos, e, principalmente, as perguntas sem fim.
Ainda há pessoas que associam a curiosidade infantil com falta de educação. “Por que aquele moço é preto?”, “Por que ela é gorda?”, “Por que a Lua é redonda?”. Uma pergunta leva a outra, e a outra, e assim por diante. A verdade é que elas são sempre bem-vindas, principalmente se soubermos valorizá-las e, sobretudo, legitimá-las.
Nem sempre poderemos responder a todas. Porém, a maioria dos estudiosos concorda que não devemos omitir, mentir ou inventar explicações para as crianças. Com o fácil acesso às informações, estamos sujeitos a, se mentirmos, a criança acabar descobrindo mais tarde; e se, omitirmos, ela poderá criar fantasias ou buscar a informação desejada em fontes não confiáveis.
O melhor seria responder às perguntas das crianças com naturalidade e simplicidade, à medida que elas forem perguntando. Porém, muitos pais, por ansiedade ou por acreditarem ter filhos prodígios, precipitam-se e excedem nas explicações. Devemos nos preparar para dar as respostas de acordo com as possibilidades de compreensão de cada faixa etária, procurando ser fiéis aos nossos princípios e valores. Diante de uma pergunta, procure se assegurar de que você compreendeu bem o que a criança realmente quer saber. Uma boa estratégia é voltar a pergunta para ela. “O que mesmo você está querendo saber?”, “Como assim?”. Agindo dessa maneira, evitará fazer longos discursos e responder coisas muito além do interesse da criança naquele momento.
Para as crianças entre 2 e 7 anos, na maioria das vezes a resposta é bem mais simples do que imaginamos. Por exemplo, uma menina de 3 anos que pergunta “Por que o Joãozinho tem piu-piu e eu não?” ou “De onde é que a gente veio?”, provavelmente, irá se contentar com as respostas “Porque ele é menino e você menina” ou “Você veio da barriga da mamãe. Com o tempo, a própria criança irá ampliar seus questionamentos e mostrar a medida do que ela está precisando saber.
Até os 7 ou 8 anos, a criança ainda está desenvolvendo a sua capacidade de abstração e não tem uma ampla capacidade de compreender alguns assuntos como amor, bondade ou morte. Assim, alguns temas não devem ser provocados na infância, a não ser que partam da própria criança. Neste caso, mais uma vez, devemos dizer a verdade e não inventar histórias, como “A cegonha é que traz os bebês” ou “As pessoas viram estrelinhas quando morrem”. Uma boa maneira de tratar esses assuntos abstratos com as crianças pequenas é recorrer aos livros de histórias ou, mesmo, às histórias criadas pelos pais. Por exemplo, no caso da morte de um ente querido, um livro que pode auxiliar é “A história de uma folha”. Explique que a morte faz parte da natureza e compare com a evolução das plantas. Ou utilize o livro “Pingo de Luz”, se estiver de acordo com os seus princípios.
Além de procurar responder às perguntas de nossas crianças, uma maneira importante de estimular a curiosidade infantil é permitir que elas brinquem e explorem o mundo com liberdade. O ato de brincar é para a criança o mesmo que o ato de pensar é para os adultos. Na brincadeira, ela projeta suas curiosidades, explora o ambiente, por meio da imaginação, organiza espaços, assume papéis dos adultos e experimenta suas reações nestes papéis. Ou seja, ela começa a se apropriar do futuro e compreender a realidade que a cerca.
Livros de apoio
Dr. Lee Salk – O que toda Criança gostaria que seus pais soubessem
Andrew C. Andry e Steven Schepp – De Onde Vêm os bebês
Peter Mayle/ Arthur Robins/Paul Walter – De onde viemos?
Leo Buscaglia – A História de uma folha
Rubem Alves – A Montanha Encantada dos Gansos Selvagens
Gislaine Assumpção – Pingo de Luz
*Ana Paula de Rezende Bartolomeo é Psicóloga; educadora infantil e diretora da Trilha da Criança